Aqui, você encontra os principais instrumentos utilizados em sua rotina a fim de que você organize melhor seu processo de trabalho.
É um dos principais mecanismos de ampliação do acesso aos serviços de saúde e um dispositivo de reorganização do processo de trabalho das equipes, por meio do qual novos processos dialógicos, de recepção e de escuta qualificada dos sujeitos, são estabelecidos. O acolhimento deve ser organizado para dar respostas tanto às demandas espontâneas como às demandas programadas, de acompanhamento. São diversas as formas de realização, que podem incluir: a equipe de referência do usuário, a equipe de acolhimento do dia, o acolhimento coletivo, entre outras modelagens. O essencial é concentrar-se em suas bases fundamentais: acesso, universalidade e resolutividade.
Você pode ler mais informações sobre acolhimento no módulo “Acolhimento e demanda espontânea” produzido pela Fiocruz/Ensp.
Em uma concepção inicial pensa-se em consulta como um momento individual focado na clínica em que são feitos os processos de escuta, exames clínicos, diagnósticos, tratamentos e acompanhamentos. Porém, abordar a consulta considerando o indivíduo de forma integral e valorizando o encontro entre profissional e usuário se aproxima do conceito de “clínica ampliada”. Esta, consiste na percepção da complexidade das necessidades sociais dos sujeitos que utilizam os serviços de saúde, e a identificação dos limites da prática clínica centrada na doença. Logo, ultrapassa-se o ato de definir uma conduta a partir do diagnóstico, não desconsiderando sua importância. Mas sim, alocando essa identificação como parte de um processo, complementado e determinado pela expressão do sujeito em seu processo de saúde-doença. O seguinte trecho simboliza bem a definição de clínica ampliada:
para que se realize uma clínica adequada (ampliada), é preciso saber, além do que o sujeito apresenta de “igual”, o que ele apresenta de “diferente”, de singular. Inclusive um conjunto de sinais e sintomas que somente nele se expressam de determinado modo. (BRASIL, 2009, p. 12).
A proposta da clínica ampliada engloba cinco eixos fundamentais: a compreensão ampliada do processo saúde-doença; construção compartilhada dos diagnósticos e terapêuticas; ampliação do “objeto de trabalho”; a transformação dos “meios” ou instrumentos de trabalho; o suporte para os profissionais de saúde (BRASIL, 2009, p.14-18).
Leia mais em:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Clínica ampliada e compartilhada. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
A visita domiciliar (VD) é uma importante ferramenta de trabalho da Estratégia Saúde da Família (ESF), cujo objetivo envolve a busca ativa de casos; coloca-se como uma alternativa assistencial para a realização de cuidados específicos e atendimentos de enfermagem ou de medicina. A individualização dos casos é um aspecto importante para nortear a equipe em seu cotidiano, por meio do estabelecimento de prioridades para a realização de VDs.
Do ponto de vista de Amaro (TEIXEIRA, 2009, p. 167), a “Visita Domiciliar é uma prática profissional investigativa ou de atendimento, efetuada por profissionais junto ao indivíduo em seu próprio meio social ou familiar, os quais desenvolvem as técnicas de observação, de entrevista e de relato oral”. Já para Kawamoto et al. (TEIXEIRA, 2009, p.168), “trata-se de um conjunto de ações de saúde voltadas ao atendimento tanto educativo como assistencial.”
O trabalho com pequenos grupos é um recurso fundamental nas práticas de saúde que permitem organizar os processos de trabalho, ampliar a capacidade assistencial e fortalecer as propostas de promoção e prevenção. Os grupos de educação em saúde, muitas vezes, são realizados em modelos clássicos de transmissão de informações e focados na doença. Porém, esse modelo traz dificuldades em relação à adesão dos usuários, à participação e corresponsabilização no processo de cuidado. Dessa forma, a proposta é que eles possam: ampliar a consciência da equipe sobre sua prática; gerar espaços de discussão, informação e soluções coletivas para conflitos; construir modelo de cuidado e empoderamento; contribuir para uma linguagem que vise a interdisciplinaridade; reforçar a responsabilidade de todos no processo de cuidado e autocuidado.
É uma atribuição comum aos profissionais das equipes de atenção básica realizar reuniões de equipes com o objetivo de discutir o planejamento e realizar avaliação das ações da equipe, com base nas informações e dados disponíveis. Essas reuniões podem ser importantes dispositivos para a organização, estruturação e troca de saberes, para qualificação e educação permanente dos profissionais além de ser um espaço em potencial para a tomada de decisões. Elas podem funcionar como um dispositivo de aproximação entre os diferentes saberes, para a construção diária do processo de trabalho e para planejamento de uma equipe de saúde.
Trata-se de uma “prática de ensino-aprendizagem” e de uma “política de educação na saúde”. Seu foco é a qualificação do processo de trabalho, a partir das necessidades identificadas pelos próprios trabalhadores e o “ensino problematizador” entre os atores. Enquanto prática de ensino-aprendizagem se refere a produção de conhecimentos no cotidiano das instituições de saúde a partir da realidade dos atores envolvidos e a necessidade desses, de mudança. Como “política de educação na saúde” envolve o ensino para a construção e fortalecimento do SUS, baseado na articulação ensino, trabalho e cidadania. (CECCIM e FERLA, 2008).
É um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, sendo este conjunto um produto da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar. Um de seus objetivos principais é aprofundar as possibilidades de intervenção sobre determinado caso. Costuma ser utilizado em situações mais complexas, contudo, eventualmente, também pode ser usado em qualquer equipe para discussão e responsabilização de problemas complexos. Quatro movimentos fazem parte do PTS: definir hipóteses diagnósticas; definição de metas; definição de responsabilidades; e reavaliação.
Leia mais em:
OLIVEIRA, G. N. O projeto Terapêutico Singular. In: CUNHA, G. T. A construção da clínica ampliada na atenção básica. 3ª Ed. São Paulo. Hucitec, 2010
A análise/diagnóstico situacional é um conjunto de técnicas e ferramentas que permitem que as equipes de saúde se aproximem da realidade das comunidades em que vão atuar, conhecendo-a, problematizando-a e, para que a partir daí, tenham condições de gerenciar seu processo de trabalho baseado no planejamento e melhoria de condições de saúde. A análise/diagnóstico situacional depende de um conjunto de informações particulares tanto em relação às necessidades de saúde da população como da oferta de serviços existentes e da capacidade de atendimento. Essas informações devem expressar características relacionadas às condições de vida da população, sejam culturais, sociais, econômicas ou epidemiológicas.
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Matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. Essa proposta visa integrar os profissionais da equipe de saúde da família com profissionais especialistas de forma que os primeiros tenham um suporte para a discussão de casos e intervenções terapêuticas. O matriciamento visa transformar a lógica tradicional dos sistemas de saúde: encaminhamentos, referências e contrarreferências, protocolos e centros de regulação, por meio de ações mais horizontais que integrem os componentes e seus saberes nos diferentes níveis de assistência (CHIAVERINI, 2011). Hoje, a principal estratégia desenvolvida para apoio matricial é a equipe de Nasf (núcleo de apoio à saúde da família). Entre os instrumentos do processo do matriciamento estão: elaboração de PTS, interconsulta, consulta conjunta, visita domiciliar conjunta, grupos, educação permanente, abordagem familiar, entre outros.
Linha do cuidado é a imagem pensada para expressar os fluxos assistenciais seguros e garantidos ao usuário, no sentido de atender às suas necessidades de saúde. É como se ela desenhasse o itinerário que o usuário faz por dentro de uma rede de saúde incluindo segmentos não necessariamente inseridos no sistema de saúde, mas que participam de alguma forma da rede, tal como entidades comunitárias e de assistência social. A linha de cuidado é diferente dos processos de referência e contra-referência, apesar de inclui-los também (FRANCO).
Por meio dela, é possível reorganizar os fluxos de tratamento dos usuários para que acessem todos os recursos tecnológicos de que necessitam.
Cogestão ou gestão participativa significa a inclusão de novos sujeitos nos processos de gestão (análise de contexto e problemas; processo de tomada de decisão). Assim, ela seria exercida não por poucos ou alguns, mas por um conjunto mais ampliado de sujeitos que compõem a organização, assumindo-se o predicado de que todos são gestores de seus processos de trabalho (BRASIL, 2009).
Além disso, a ideia de cogestão resgata as funções da gestão para além de manter a organização funcionando e sim: analisando a instituição e gerando analisadores sociais para tal; criando e formulando projetos; constituindo-se como espaço para a tomada de decisão; sendo um espaço pedagógico. Em outras palavras, o prefixo “co” indica para o conceito e a experimentação de uma gestão com um duplo movimento: a adição de novas funções e a adição de novos sujeitos.
Uma classificação de risco com critérios adequados à realidade da comunidade evita agravamentos de situações de risco, expande o olhar não só para o risco biológico, mas para os riscos sociais tão frequentes na atenção básica. A classificação de risco pode ocorrer de variadas formas, de acordo com a organização da equipe e as necessidades da comunidade. A estratificação do risco dos usuários tem por função não só orientar a oferta do cuidado, mas principalmente o tempo em que isso deve ocorrer. Os resultados esperados são a diminuição do tempo de sofrimento das pessoas e o privilégio do acesso a partir do princípio da equidade, ao contrário das tradicionais filas e cotas de consultas diárias.
Como um exemplo de classificação de risco, podemos citar a escala de Coelho, que trata-se de uma escala elaborada para medir o risco familiar, baseado na Ficha A do SIAB, por meio da qual alguns aspectos são avaliados na primeira visita domiciliar realizada pelo ACS. Os aspectos de maior relevância/pontuação são escolhidos em reunião de equipe de acordo com a particularidade da comunidade a ser avaliada. Aplicada em diferentes comunidades, classificou-se as famílias em escalas de risco, a fim de priorizar VD nas famílias classificadas como mais vulneráveis.
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São várias as formas de se fazer planejamento em saúde. O processo de planejamento, entendido como prática social, envolve atores sociais e pode ser pensado por três premissas:
É importante dizer que o planejamento deve ser desenvolvido a partir dos problemas do território em uma perspectiva intersetorial.
O método SWOT cuja sigla em inglês significa forças ou pontos fortes (S – Strenghts), Fraquezas ou pontos fracos (W – Weaknesses), Oportunidades (O – Opportunities) e Ameaças (T – Threats) é um modelo de avaliação baseado no modelo estratégico situacional. É elaborado por meio de uma matriz a partir da qual é facilitada a análise e a proposição de sugestões para tomada de decisões, de acordo com a governabilidade dos problemas listados (interna ou externa).
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É uma representação gráfica das etapas do processo de trabalho em sua totalidade. Por meio dele, sistematiza-se determinadas práticas de saúde do cotidiano da equipe, a fim de refazer o percurso e consequentemente, compreender como este está organizado, apontando problemas no cuidado aos usuários. É elaborado por um conjunto de símbolos. O fato de ser elaborado sob a perspectiva do usuário tende a melhorar a assistência prestada, podendo ser reelaborado sempre que houver necessidade de rever o problema de saúde escolhido. Tem como perspectiva beneficiar a equipe por ser construído coletivamente, evitando fragmentações no processo de trabalho e de cuidado, sendo muito utilizado para o planejamento e avaliação de processos pelos gestores.
É uma representação gráfica com informações sobre a família, de maneira que permite uma rápida visão da composição, de padrões familiares, de relacionamentos, além de ser uma rica fonte de hipóteses sobre as influências no processo de adoecimento a partir do contexto familiar.
É uma forma de organização dos registros clínicos que de forma sistemática permite acompanhar os cuidados de saúde prestados aos usuários. Tem como função: o acesso rápido aos dados do usuário; o fornecimento de dados contínuos sobre os problemas de saúde; o fornecimento de dados para decisão sobre condutas terapêuticas. Ele é elaborado a partir de quatro aspectos: subjetivo – cujo registro deve ocorrer para além das queixas, abrangendo os sentimentos; objetivo – cujo registro deve incluir os testes e resultados diagnósticos e clínicos; avaliação – cujo registro identifica o problema e seu grau de evolução e resolução; plano – cujo registro propõe medidas terapêuticas, de aconselhamento e um plano de reavaliação.